ONDE PARAM OS CAMELOS DO MPLA?

Um total de 101 camelos provenientes dos Emirados Árabes Unidos (EAU) foram inseridos, esta quarta-feira, na zona do Fundão, município da Bibala, província do Namibe, com vista a dinamizar a actividade turística e fomentar a produção de carne e leite nesta localidade. Que raio! O MPLA não arranjaria, no seu “harém”, camelos autóctones?

Segundo o vice-governador provincial do Namibe para o sector Político, Social e Económico, Abel Kapitango, os respectivos animais gozam de boa saúde e adaptaram-se com o clima da região.

Na ocasião, o dirigente referiu que a província está a produzir feno com a qualidade aprovada nas estações zootécnicas do “Yaya” (Moçâmedes) e Cacanda (Bibala).

Abel Kapitango assegurou que as autoridades vão continuar a sensibilizar as comunidades residentes nos arredores do perímetro onde está a ser implementado o projecto, de modo a garantir uma convivência harmoniosa.

Adiantou também que, no futuro, o Governo vai reintroduzir a espécie, para que as populações possam criar os camelos e gerar renda para as famílias.

“O camelo é bastante resiliente, pois consegue viver muito tempo sem água, pelo que não teremos nenhuma dificuldade na sua acomodação, convivência e domesticação”, acrescentou.

O projecto, implementado em parceria com os Emirados Árabes Unidos, ocupa uma zona de 16 mil hectares, que permitirão os animais circularem de forma confortável.

Esse projecto contempla também furos de água, com sistema de captação através de sistemas de gravidade e com capacidade para mais de 20 mil litros de água, assim como zona de alimentação e uma residência administrativa, que já estão em funcionamento.

A região norte do continente africano é notoriamente conhecida pelas paisagens desérticas, como o deserto do Saara e a região do Magreb. Desde os tempos mais remotos, os povos que passaram a habitar essas regiões contavam com a polivalência (tipo peritos do MPLA) dos camelos para enfrentar as adversidades do deserto. Os relatos tradicionais de tribos bérberes (povos nómadas que habitam o deserto), que remontam à Idade Antiga, indicam várias formas de adaptação ao clima do deserto, desde o uso de vestimentas à alimentação e, é claro, à utilização dos camelos.

Durante o período da Idade Média, essa região do norte africano sofreu um processo de islamização. Alguns poderosos reinos islâmicos ergueram-se, como o reino de Mali, além do domínio dos sultões, que estabeleceram califados na região nordeste da África, onde estão hoje o Sudão e o Egipto. Uma das formas encontradas de estabelecer contato com os reinos que ficavam abaixo do deserto do Saara foram as caravanas de camelos.

Da mesma forma que o Mar Mediterrâneo era o centro comercial entre Europa e Ásia Menor no período medieval, o deserto do Saara, por meio das caravanas de camelos, tornou-se o principal canal de escoamento de artigos variados, como ouro, marfim, cereais, escravos, diversas especiarias e sal. Dessa forma, as caravanas de camelo tornaram-se, à época, o principal meio de trânsito comercial na África.

A opção pelo camelo, e não por outros animais, como o cavalo, devia-se, sobretudo, a características como a resistência física desse animal, que era capaz de ficar muitos dias sem consumir água e de carregar um peso muito superior ao seu corpo. Além disso, do camelo também advinha a subsistência dos caravaneiros, sobretudo os nómadas, como os beduínos e os bérberes.

O historiador Vitorino Godinho afirma: (…) “O camelo por si só quase basta para satisfazer todas as necessidades humanas: alimenta e mata a sede – pela sua carne e pelo seu leite –, serve de montada e de besta de carga, e com o seu pelo tecem-se as tendas e o vestuário. Como aguenta longos dias sem beber, atravessa facilmente as zonas desérticas que, sem eles, seriam quase intransponíveis”.

Assim sendo, a importância principal das caravanas de camelos residia na promoção da integração das regiões africanas que não tinham muita conexão em razão dos aspectos geográficos. Até mesmo a peregrinação islâmica à cidade de Meca era feita, pelos povos residentes no Magreb, via caravanas de camelos. Além disso, o comércio com o sul da Europa também dependia do que chegava até às margens do Mediterrâneo por meio dos camelos.

Recorde-se que, recentemente, Presidente general João Lourenço testemunhou a colocação de algumas espécies animais, com destaque para 13 girafas, no Parque Nacional do Iona, para o seu repovoamento. Como prometido, o general não se esquece do que promete… que o digam os macacos, os chimpanzés e, agora, os camelos

De facto, no dia 15 de Setembro de 2022, chefe de Estado do MPLA prometeu, no discurso da sua posse, “ser o Presidente de todos os angolanos” (do MPLA) e promover o desenvolvimento económico e o bem-estar da população, indo mesmo ao ponto de prometer defender os macacos e os chimpanzés.

Voltemos ao Parque Nacional do Iona, acto protagonizado por João Lourenço, ocorrido próximo da foz do rio Cunene, e que fez parte da cerimónia de inauguração de 26 infra-estruturas de apoio à gestão do parque.

Em Julho do ano passado, o Parque do Iona foi repovoado com 14 girafas, sendo que três não resistiram ao clima e, este ano, com mais outras 14, provenientes da vizinha Namíbia. O próximo repovoamento será de rinocerontes. Os camelos já cá estão.

Actualmente, o Parque Nacional do Iona (PNI) está em processo de reabilitação, para se dotar de infra-estruturas modernas, aptas a oferecer melhores condições de acomodação aos seus utentes, em particular os visitantes.

As obras de restauro visam igualmente garantir uma maior conservação da biodiversidade e o fomento do turismo a partir do maior parque transfronteiriço de Angola, numa área de cerca de 15 mil quilómetros quadrados.

Segundo os gestores do projecto, está já concluída a primeira fase de reabilitação do PNI, que passa a contar com novas instalações para a sede da sua administração, uma infra-estrutura de apoio operacional construída de raiz.

Em Agosto do ano passado, a ministra do Ambiente, Ana Paula de Carvalho, informou, na cidade de Ondjiva, que se estava a criar condições para a recuperação de mais um parque nacional, no caso o do Mupa, no Cunene.

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